O tomismo, em sua essência, é primariamente uma teologia. Santo Tomás de Aquino, como ele mesmo afirmava repetidamente, era um teólogo, e utilizava a filosofia como um meio para a compreensão da teologia, considerando-a como uma serva desta. A tarefa de sistematizar sua filosofia foi deixada para seus seguidores.
Na teologia, o Doutor Angélico demonstra um espírito sintético notável: ele assimila o que há de verdadeiro em praticamente todos os Padres da Igreja, incorporando também o consenso unânime destes. Segundo minha visão, o tomismo se posiciona logo abaixo do magistério autêntico da Igreja e é considerado, como afirmou Pio XI, “a única doutrina teológico-filosófica que a Igreja adotou como sua”.
A síntese tomista, entretanto, é única em sua natureza. Não apenas supera os elementos que a compõem, mas também os transcende grandemente, levando os princípios ao seu máximo. Isso é especialmente evidente na abordagem da teologia agostiniana, na qual Santo Tomás se baseia em temas cruciais como a Trindade e a predestinação, elevando-a à perfeição que o próprio Santo Agostinho não pôde alcançar.
Por outro lado, a teologia, fundada nos primeiros Padres da Igreja, passou da infância para a maturidade com Santo Agostinho, e atingiu sua plenitude com Santo Tomás. Isso ocorreu porque, fundamentada em uma lógica e metafísica superiores – as aristotélicas – o Doutor Comum da Igreja pôde conferir à teologia um verdadeiro método científico, definindo com precisão seu objeto: Deus em Sua essência divina.
Quanto à discussão sobre se Santo Tomás era mais aristotélico ou (neo)platônico, é importante destacar que seu pensamento pode ser considerado um aristotelismo especificado pelo (neo)platonismo. Enquanto ele levou os princípios da filosofia aristotélica ao seu ápice, pouco os alterou. Por outro lado, utilizou um (neo)platonismo profundamente revisado – concluindo o que Santo Agostinho tinha iniciado – como um complemento ao aristotelismo, ao contrário dos neoplatônicos que consideravam o aristotelismo como complementar ao platonismo.
O tomismo, em essência, adota o realismo aristotélico, especialmente na questão dos universais, mas de maneira geral. Trata-se de um realismo puro e simples, posicionando-se entre o realismo exagerado de Platão e dos platônicos, e o nominalismo e o idealismo. Metafisicamente, o cerne da doutrina tomista é a distinção real entre ser (ou ato de ser, actus essendi) e essência. A partir desta distinção, Santo Tomás alcança o ápice de sua doutrina metafísica: a diferenciação entre Ente por essência e ente por participação, incluindo aqui o elemento (neo)platônico da participação.
O Ente por essência, Deus, é o próprio Ser que subsiste por si mesmo, da mesma forma que o verde seria a cor que subsiste por si mesma se pudesse ser separada da superfície. O ente por participação, por sua vez, engloba todos os seres criados, que só têm existência porque Deus a concede. O ser é, de fato, a própria razão de ser do objeto da criação. E quem mais além de Deus, o próprio Ser, poderia criar e, portanto, conferir existência a seres que não possuem esse ser?
É esta metafísica sublime que auxilia Santo Tomás a elevar a teologia a patamares inigualáveis, permitindo uma compreensão até onde é humanamente possível da Santíssima Trindade. Através do tomismo, somos agraciados com uma visão profunda da relação entre Deus e a humanidade, além de uma busca incessante pela verdade divina.